quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Comissão solicita unidade para tratamento da anemia falciforme


O Dia da Consciência Negra foi marcado na Assembleia Legislativa pelo compromisso da Comissão de Saúde e Saneamento de enviar documento ao Governo do Estado, solicitando que seja implantado em Salvador um centro de referência para o tratamento da anemia falciforme, doença que já atinge 5,5% da população sem que até o momento exista sequer uma unidade pública de saúde específica para tratamento e acompanhamento dos pacientes.
O anúncio foi feito ontem pelo presidente do colegiado, deputado José de Arimatéia (PRB), durante audiência pública que discutiu o assunto, e depois de ouvir pronunciamento de Ângela Zaneti, hematologista, doutora em medicina e referência em anemia falciforme na Bahia.
Segundo informações fornecidas à Comissão de Saúde por Zaneti, a doença não tem cura. Os portadores deste mal padecem de fortes e constantes dores e nem mesmo o diagnóstico precoce é capaz de prevenir os males causados pela doença, uma mutação genética ostentada por grande maioria da população negra baiana, sobre a qual recai a maior incidência da anemia falciforme. Nem mesmo exames de sangue de rotina, como hemograma, acusam a doença. Para ser detectada, é necessário exame específico.

 
DESINFORMAÇÃO

Em Salvador, os pacientes são atendidos pela Fundação Hemoba e pelo Hospital das Clínicas, mas falta mesmo é um centro de referência sobre a doença. E falta também, completou Ângela Zaneti, informação, desta vez por parte dos profissionais de saúde que, em grande parte, procedem diagnóstico errado por inteiro desconhecimento sobre a moléstia. Como um dos sintomas da anemia falciforme é a icterícia, caracterizada por olhos amarelos, os médicos costumam confundi-la com hepatite, o que retarda e atrapalha o tratamento.
Colocando a existência de um centro de referência e melhor informação médica como as principais necessidades que envolvem a anemia falciforme na Bahia, a médica lançou ainda, como um bem à causa, o funcionamento correto do SUS. "No papel ele é perfeito", disse, argumentando em defesa de uma prática igualmente satisfatória do Sistema Único de Saúde que em muito favoreceria os doentes.

Hoje, os pacientes desta doença vivem mais, anunciou Zaneti. Mas o que poderia ser uma boa notícia revela um lado cruel: quanto maior sobrevida, mais sofrimento e maior necessidade de cuidados especiais expõem os portadores da anemia falciforme, doença que, além do mais, é um exemplo de racismo e de exclusão social, segundo a qualificou a assessora do programa de Promoção da Equidade Racial em Salvador, Sílvia Augusto, da Secretaria Municipal de Saúde.

Ela disse que a questão da incidência da anemia falciforme e a falta de um centro de referência para seus pacientes tornou-se bandeira social "quando se discute a saúde da população negra" no Brasil. A secretária aponta a quase inexistência de investimentos neste segmento da saúde pública, em que pesem os avanços dos estudos e pesquisas e a grande incidência da doença entre os negros brasileiros. "Uma a cada 650 pessoas nascidas vivas é portadora do mal", disse a assistente social, que luta, com e através do programa de Promoção da Equidade Social, contra "o racismo institucional" que vigora no país.

A existência do racismo no Brasil, por sinal, já não é mais questionável, não se discute se ele existe ou não, disse Sílvia Augusto, afirmando que ele "é uma verdade". No seu pronunciamento diante da Comissão de Saúde e Saneamento, a secretária municipal reproduziu falas e pensamentos de personalidades brasileiras que reafirmariam a existência da segregação racial no país – assunto que predominou na sua participação na audiência pública –, dentre eles, uma afirmação do ex-ministro de Relações Exteriores Osvaldo Aranha, para quem seriam necessários a "limpeza e o expurgo" da raça brasileira.

INVESTIMENTOS




Para ela, o racismo é uma verdade já fixada "no inconsciente coletivo", que se manifesta de inúmeras e diversas maneiras. Como, por exemplo, no problema do desemprego, situação que afetaria 12,2% das mulheres negras brasileiras, em detrimento de menor percentual dentre as brancas. Em apenas um setor, os negros pontuam à frente dos brancos no Brasil, disse: no programa Bolsa Família, que beneficia 69% de famílias negras.
Para o presidente da Comissão de Saúde e Saneamento, José de Arimatéia, a saúde da população negra, em especial a anemia falciforme, é um problema que precisa ser enfrentado pelos poderes públicos. Tanto o Governo do Estado quanto as prefeituras municipais tem que investir em programas de assistência e conscientização da população sobre os danos causados pela doença, em um processo de mobilização constante. Porque, advertiu, este é um mal que "cresce a cada dia".

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